Uma carta-abraço, de pai para pai


Olá Thiago,

Meu nome é Diego Rabatone e esta é uma carta que há muito gostaria de ter escrito (mas tudo tem o seu momento né?).

Nós conversamos brevemente em 2019, durante o encontro “Pai 2019”, aqui em São Paulo. Lembro-me ainda hoje de conversarmos brevemente no sofá do “espaço kids”. Àquela época eu e minha companheira estávamos grávidos de nossa filha Zoé, que, já sabíamos, possuía uma doença rara e complicada. Sabíamos, por exemplo, que ela certamente iria para a UTI se conseguisse sobreviver ao parto, e esse foi o tema de nossa conversa, ser pai de UTI neonatal/infantil. Foi uma conversa breve, mas acolhedora, e lembro-me também que você fez questão de levantar do sofá (onde estava descansando da maratona que estava sendo o fim de semana) para me dar um abraço.

Desde que descobrimos que Zoé estava a caminho mergulhei no mundo da produção de conteúdo sobre paternidade e parentalidade, pois eu tinha consciência da minha ignorância no assunto. E, claro, seu podcast foi uma das grandes referências, senão a maior delas. Dentre muitas questões, achei curioso termos várias coisas em comum. Ambos engenheiros, ambos cancerianos (e com muitas características dos esteriótipos definidos por tal classificação — na realidade eu sou do signo de câncer com ascendente em câncer, caso você entenda algo do assunto rs) e, pelo visto, ambos damos uma grande importância para o gesto do abraço — esse é o meu maior símbolo de afeto com várias pessoas.

Voltando à Zoé, tivemos uma caminhada muito intensa com ela, por ser uma gestação de risco foram muito mais visitas a médicos que o habitual, fomos para o parto já com um cirurgião pediátrico escolhido para fazer a cirurgia dela se tudo corresse bem. Mas foi uma gestação maravilhosa, aproveitamos muito mesmo! Inclusive algumas horas antes do início do trabalho de parto estávamos no cinema. E, claro, os dois dias que passamos com ela na UTI foram bem difíceis. Para mim especialmente foi muito difícil “me dividir” entre ficar na UTI com ela e ficar no quarto com a minha esposa. Mas claro, tudo isso fica diminuto frente à dor que foi receber a notícia de que nossa pequena lutadora havia partido. Uma dor inimaginável, indescritível e incurável.

Com o tempo aprendi a conviver com esse turbilhão de sentimentos que foi a partida dela. Muitas coisas me ajudaram nesse processo. Muitos abraços, muito acolhimento, novas amizades advindas do mundo das famílias enlutadas.

Depois de algum tempo engravidamos de novo, e só então voltei a me conectar um pouco mais com o mundo da paternidade. Em agosto de 2021 nasceu nosso filho, o David. E posso dizer que você é figura frequente por aqui. Seja porque acompanhamos seus podcasts, seja porque é quase impossível não pensar coisas como “Meu Deus! Como ele consegue criar tantos filhos? É impossível, eu estou aqui morrendo para conseguir me virar com um só” ou o famoso questionamento: “Como dar conta?” — Sim, eu sei que ninguém dá conta! Mas é difícil lidar com esse sentimento né?

Aliás, coincidências ou não, por aqui também estamos em processo de mudança de residência.

Enfim, tudo isso para compartilhar um pouco com você, dizer que aquela conversa lá em 2019 foi (e ainda é) muito importante para mim. Agradecer por ela, pelo abraço e por todo conteúdo produzido, por toda sinceridade e exposição. Parabenizá-lo por tudo isso. Inclusive, o que me motivou a escrever essa carta num domingo de páscoa, em que não parei 5 minutos para descansar, às 23h00, após lavar a louça e estender a roupa no varal, foi o primeiro episódio do “Cartas para um terapeuta”. Em que o Alexandre faz um convite para que as pessoas escrevam. Ainda vou escrever-lhe, mas sobre outras coisas. Mas antes precisava fazer acontecer esta carta, que há muito queria ter escrito (mas tudo tem seu tempo).

É isso. Um grande abraço e até uma próxima!

Abraços,

Diego Rabatone Oliveira


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