1a Conferência de Engenharia da USP – Parte 1


Hoje começou a “Primeira Conferência de Engenharia da USP”, que vai até amanhã.

São dois dias para discutir Engenharia e seu papel na sociedade – falando de forma beeeeem ampla.

A organização dessa primeira conferência está focando a discussão em “Sustentabilidade”. Abaixo segue o meu relato da primeira parte (manhã de hoje – 25-10-2011).

Ah, vou deixar meus comentários destacados em negrito…..

Composição da Mesa:
Prof. João Fernando de Oliveira – Presidente/Diretor do IPT  (representando Jorge Almeida Guimarães, presidente da CAPES)
Prof. Marco Antônio Zago – Pró-Reitor de Pesquisa da USP
Prof. José Roberto Cardoso – Diretor da Escola Politécnica da USP
Prof. José Castilho Piqueira – Vice-Diretor da Escola Politécnica da USP

Convidados presentes:
Prof. Flávio Ulhoa Coelho – Diretor do IME-USP
Nilson Dias Vieira Junior  – Superintendente do IPEN
Capitão Hélio Meira dos Santos (Marinha)
Vice-Almirante Luiz Guilherme (Marinha)

A abertura foi feita pelo Prof. Piqueira:
Falando sobre o mercado de engenharia ele comentou que em 1974, quando se formou em Engenharia na USP São Carlos, a Engenharia estava “em alta” e o conseguir emprego era fácil.
Já no período de 1985 a 2000 a engenharia perdeu sua participação nas ações importantes do país, saindo do papel central do desenvolvimento em virtude de um modelo de trazer tecnologias de fora do país.
À partir dos anos 2000 a engenharia voltou à cena com o surgimento de construtoras grandes e pequenas, com a Embraer, VASP e outras tantas, e percebeu-se que não existe progresso sem engenharia.
Hoje diz-se que faltam engenheiros, que o Brasil precisa “disso e daquilo”, mas esses problemas (falta de engenheiros) não serão resolvidos “numa penada”, é preciso retormar o progresso de uma maneira coordenada, pensando muito na formação dos professores e profissionais.
Ele colocou também a pergunta “Quais são os grandes problemas do mundo hoje?”.
Os principais problemas por ele elencados foram: Energia, Água, Meio Ambiente, Saúde, e, principalmente, a democratização da qualidade de vida.
E ele completou dizendo que a engenharia é fundamental para resolvê-los.
Em seguida ele disse que foi por isso que ele e os Professores Vanderlei John (Civil-Poli), Ivan Falleiros (PMT-Poli) e Henrique Rosenfeld (Produção – São Carlos), com a ajuda da pró-reitoria de pesquisa, resolveram aceitar o desafio e trazer as principais autoridades do país para falarem sobre as coisas úteis da engenharia para fazer um debate construtivo sobre a engenharia do país.
Ele encerrou com agradecimentos especiais aos Professores Vanderlei John, Ivan Falleiros, José Roberto Cardoso, Henrique Rosenfeld e Nakao.

Em seguida a palavra foi passada ao Prof. José Roberto Cardoso:
Ele começou expondo alguns números da Engenharia no Brasil.
Em 2010 foram abertas 180 mil vagas em engenharia no país, sendo que apenas 150mil foram preenchidas.
Entraram 150 mil estudantes em cursos de engenharia, e se graduaram apenas 30 mil.
Existem 30 mil (ou 130mil? Perdi o número…)  estudantes de engenharia hoje no país.
Não existe profissão de tão baixo rendimento de egressos, “temos apenas 20% de rendimento” (sic).
É preciso rediscutir as técnicas de ensino para reverter este quadro.
60% do contingente de alunos abandonam o curso no final do segundo ano.
A presença feminina também é algo que peca na engenharia. No brasil inteiro as mulheres são apenas 14%, na EPUSP elas são aproximadamente 25%.
Achei muito legal ele destacar essa questão com tanta ênfase, porém não vejo, na Poli (e em nenhum outro lugar), ações concretas para mudar essa realidade. Ainda vivemos num poço de machismos e autoritarismos – seja por parte de estudantes, centros acadêmicos e afins, seja por parte dos docentes. Isso pensando em graduação. Se for pensar em pós-graduação e docência é pior ainda, visto que não existe qualquer tipo de iniciativa para, por exemplo, permitir que elas constituam uma família – um homem quando quer ter filh@ é fácil, para a mulher é MUITO diferente).
Isso é importante pois está provado que com a inserção da mulher no mercado a qualidade do mercado melhora.
Em contraposição ao meu elogio à citação da questão, este ponto reduz a participação da mulher “ao mercado”, o que eu acho péssimo! Tem muito mais questões envolvidas.
No segundo semestre de 2010 ingressaram no país 22.500 estrangeiros com visto de trabalho, sendo aproximadamente 15mil engenheiros.
30% dos engenheiros no Brasil trabalham para a Petrobrás.
Na pós-graduação foram titulados, no Brasil, 10.500 doutores (a pós está melhor que a graduação), sendo 1500 nas engenharias.
Uma das grandes preocupações é a reestruturação dos cursos de engenharia, e a EPUSP está num momento de repensar sua Estrutura Curricular.
A Poli tem hoje 16 modalidades, com o total de 17 cursos, de engenharia.
Os engenheiros da Poli saem muito especializados, seguindo um conceito introduzido na década de 70. Na época falava-se do “engenheiro saindo produzindo”.
Em nossa área temos o Engenheiro de Telecomunicações, de Energia e Automação, de Automação e Controle. Será que é necessária tanta especialidade? Será que não é melhor pensar num engenheiro mais generalista?
Já está provando que aquele engenheiro com conhecimentos mais abrangentes é mais inovador.
Por exemplo a IBM é notoriamente uma das maiores especialistas em computadores, mas a invenção do microcomputador foi feita numa garagem, e não dentro dela.
A AT&T sempre foi uma das maiores especialistas em telecomunicações, mas não foi quem lançou o primeiro celular.
A especialização é inibidora da inovação.
A ideia é promover uma “formação em T”, com uma formação abrangente e posteriormente se focar numa determinada especialidade.
Empreendedorismo e Administração não são coisas natas do ser humano, são coisas que se aprende. Existem exemplos emblemáticos, na EPUSP, de estudantes que tiveram grandes ideias e produziram grandes empresas. Precisamos incentivar isso, orientando-os em como fazer isso.

O próximo a falar foi o Professor João Fernando de Oliveira (IPT), representando o presidente da CAPES:
Ele começou expondo que a situação atual do brasil com relação à recursos humanos e a formação desses está ruim.
Ele colocou que a inovação depende muito da disposição e vontade dos jovens, e que hoje, no Brasil, não se consegue motivar os jovens.
Em suas aulas o Prof. João Fernando tem tentado técnicas diferentes, partindo de ações práticas para depois trazer a teoria sobre aquela prática.

Em seguida a palavra foi passada ao Prof. Zago, Pró-Reitor:
Na universidade as discussões predominante se dão em torno de atividades meio (carreira dos professores, funcionários, salários e afins). As atividades fins não estão no centro das discussões da universidade. Por isso a organização das Conferências USP, para que essas discussões sejam feitas dentro da universidade e não num hotel de luxo longe da mesma. Essas discussões tem que estar no dia-a-dia da universidade. O que dizer da tal “INOVATEC” organizada pela “Agência USP de Inovação” – http://www.feirainovatec.com.br/
Já foram realizadas conferências da química, direito, medicina, administração e outras. Até o final do ano serão, ao todo, 10 conferências, e no início do ano que vem será organizada a 11a, que será ampla (para toda a universidade) e terá como temática  “O mar”.
A proposta é que as conferências sejam anuais.
O problema do Brasil hoje é o Ensino Médio/Fundamental, e não o Universitário. E isso não foi resolvido.
O Brasil sofre hoje pois não está formando pessoas qualificadas (em todas as áreas técnicas do Ensino Superior) para sustentar o desenvolvimento do país. E não só o Brasil, mas o estado de SP também.
Muito se fala da formação de doutores (tomando como exemplo guia para debater o assunto).
Inegavelmente houve um grande progresso, o Brasil forma hoje 75% dos doutores da AL, incluindo o México. No entanto, são apenas 56 doutores por milhão de habitantes no Brasil, e 110 por milhão no Estado de são Paulo. A Alemanha forma 300 doutores por milhão de habitantes. É preciso que melhorar muito.
O Plano Nacional de Pós-Graduação tem um “wishifull thinking” que em 2020 seriam formados 20 mil doutores. Para tanto, hoje seria necessário ter um ingresso de cerca de 25mil doutorandos – considerando que sempre existem baixas, mas hoje são apenas 8 mil.
Além disso é fundamental uma ampliação das infraestruturas, é impossível crescer mais sem aumento e melhoria de infraestrutura.
Esse é só um exemplo, e que mereceria uma conferência própria.
Já, com relação à pesquisa, é preciso entender que a engenharia ocupa uma posição central, caso deseje-se que o Brasil tenha como base de seu desenvolvimento a ciência, a tecnologia e a inovação.
Hoje o desenvolvimento brasileiro é fundamentalmente o desenvolvimento da agropecuária. E isso se deve em especial à inovação feita pelas universidades, principalmente a ciência da USP por meio da ESALQ – incluindo ai o desenvolvimento feito pela EMBRAPA dentro da ESALQ.
Ele coloca ainda que a engenharia e a ciência brasileira (física, mat, etc) são fundamentais para que se tenha desenvolvimento.
Fazendo um comparativo entre Brasil e China, é muito comum as pessoas se referirem à China como produtora de produtos piratas.
Mas, quando se olha a lista “top” de produções científicas – e aqui não está se falando de patentes, mas de artigos em revistas de circulação internacional – a engenharia do Brasil aparece como 5a da lista, sendo medicina a 1a e computação em 9a.
Já na China, primeiro vem engenharia depois astronomia (2a), matemática (3a) e ciência de computação (4a).
Este panorama deve ser observado e fica claro que o Brasil não terá um desenvolvimento tecnológico se não houver desenvolvimento de ponta nas universidades. A universidade tem o papel de formar o profissional do mercado imediato mas, além disso e principalmente, tem o papel de fazer o desenvolvimento tecnológico de base necessário para o futuro.
As pessoas da Física, Matemática, dentre outras, tem que estar no centro do desenvolvimento.
Mas, quando se olha a formação de doutores no Brasil há 10 anos e agora, nas áreas de engenharia e medicina houve uma redução no % de doutores, comparativamente às áreas de ciências essenciais.
Claro que nem todos esses temas serão debatidos nesta conferência, mas é necessário pensar em espaços pra isso.
Outro ponto é que o número de crianças e jovens no Brasil vai começar a reduzir.
Isso já ocorre na Alemanha e o Brasil começa a sofrer esse fenômeno.
Serão cada vez menos jovens para ingressar nas universidades e no mercado, e é preciso melhor aproveitá-los, seja garantindo que os ingressantes cheguem ao fim do curso, seja incentivando cada vez mais a busca por carreiras de ciência e tecnologia.
Nesses dois dias é preciso debater o papel da engenharia no mundo em mudança, questões como a importância do meio ambiente.

Agora a palavra foi passada ao Professor Henrique Rozenfeld que fará a coordenação da primeira mesa:
Na primeira palestra o Prof. Tim McAloone (Univer. Técnica da Dinamarca), que tem trabalhado em Standford, vai trazer exemplos de como temos que colocar a questão da sustentabilidade dentro da engenharia, e como eles tem feito um país como a dinamarca (com 5.5 milhões de habitantes) fazer uma inovação baseada em sustentabilidade.
A segunda palestra será feita pelo Emiliano Barelli (Natura), para falar sobre o que a empresa tem feito no campo da sustentabilidade.

Palavra Tim McAloone:
Não consegui anotar quase nada desta palestra, mas ela foi fantástica e estará disponível no iptv-usp. Vou tentar consegui a apresentação de slides também e ai faço um post só sobre essa apresentação. Abaixo algumas poucas coisas do que consegui anotar:

Ele é professor da área de “Section Eng. Design & Product Development
4 áreas de foco:
– Life cycle thinking
– environmental stewardship
– sustainability …. ?

Ele falou sobre “Eco-Inovação” na cadeia de valor, ele colocou que inovação não se resume a uma cadeira bonitinha, chinelos de borracha de pneu, bicicletas dobráveis e afins, é possível fazer muito mais. Por exemplo:
15% da energia gasta no mundo é de bombas (óleo, água, etc). Se econstruirmos uma tecnologia de bombeamento mais eficiente a redução de gastos de energia seria brutal e faria muita diferença, muito mais do que pequenos produtos.
Outro exemplos: Na dinamarca a bicicleta é muito utilizada. Uma grande inovação foram luzes de bicicleta alimentadas de forma magnética, com imas nas rodas. Eliminamos as pilhas/baterias – e as pessoas nunca ficam sem suas luzes.

A seguir ele colocou um slide que dizia que “Aquecimento global” é “tããããooo” 2009…. mas, mesmo que você não acredite nisso, existem coisas que não podem ser negadas. (ver slide  com a lista)
Baseado nos dados de 1999, em 2050 precisaríamos de 8.5 planetas para absorver o CO2 produzido, 3.5 para o consumo de madeira, 3.5 para aço, dentre outras.

Ele mostrou um slide sobre emissão de CO2 per capta por ano para vários países.
Pensameto: O Brasil é a 5a maior economia do mundo e o 5o maior produtor de co2 do mundo…. a china está em primeiro nas duas listas, e os EUA em segundo nas duas.

Em seguida ele mostrou alguns dados sobre transporte, comparando diversos países.

Em seguida a apresentação se focou em Design, no sentido de “Processos” (e não de desenho), mostrando como eles organizaram o curso de “Design” na Dinamarca, os processos pedagógicos utilizados (focado em atividades práticas locais e em empresas), o estudo do “processo de desenvolvimento” de um produto, considerando toda a cadeia (até o descarte) e por ai vai.

Não anotei nada da palestra do representante da natura que só falou do histórico da empresa e de como eles trabalham.

Após a apresentação do representante da Natura, abriu-se o microfone para perguntas. Não houve muita coisa de diferente do “senso comum”, gostei muito do comentário/crítica à “sustentabilidade” da Natura quando grande parte de seu mercado é baseado em vendedoras independentes, sem nenhum tipo de registro, sem garantias sociais ou coisas do gênero. Outro ponto que foi colocado foi com relação a índices e indicadores de sustentabilidade, da dificuldade em se obter/usar tais dados, em especial no Brasil. Com relação a isso o Tim respondeu que é fundamental utilizarmos tecnologias/softwares/padrões abertos, e que os resultados sejam compartilhados de forma livre! Achei fantástico, parece que na Dinamarca Liberdade não é “discurso de geek”.

Termino expondo a minha enorme insatisfação na forma como inovação é apenas um discurso em nossa Universidade. Fala-se que é necessário inovar, precisamos disso para fazer do Brasil um país melhor e blá blá blá, mas no dia-a-dia a postura nunca é condizente. Eu era um dos poucos discentes presentes, levantei minha mão para fazer uma pergunta e fiquei mais de meia hora esperando. Professores foram passados na frente, profissionais do mercado foram passados na minha frente, outras pessoas foram passadas na minha frente e, no fim das contas, o único discente que expressou vontade em fazer uma pergunta/comentário acabou ficando sem oportunidade. Encerraram  a atividade sem me passar a palavra. Essa é a inovação da USP, “discente não tem espaço, discente não tem o que acrescentar”, “o futuro do nosso país” só terá direito a se manifestar qual não mais puder ser “o futuro”…..


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