Fim do curso de Engenharia de Computação da Poli-USP

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Fim do curso de Engenharia de Computação?

Na primeira semana de julho fiquei sabendo que o “Departamento de Computação” (PCS) da Poli USP decidiu parar de oferecer o curso de Engenharia Elétrica com Ênfase em Computação (popularmente conhecido como Engenharia de Computação Semestral, ou, “Comp Semestral”). Essa decisão ainda precisa ser ratificada pela Congregação da Escola Politécnica da USP (agosto ou setembro) e também pelo Conselho de Graduação da USP (CoG). O Curso não mais será oferecido, e as 60 vagas do curso serão distribuídas entre os demais cursos de Engenharia Elétrica (Poli-USP).

No fim das contas a Poli ficará apenas com um curso de Computação, o cooperativo (ou quadrimestral). O motivo alegado para esta decisão é: a nova estrutura curricular da elétrica ficou inviável, excessivamente pesada para alunos e professores.

A computação, o PCS e a EC3

Fui representante discente na Congregação da Poli e também no próprio PCS. Dentre muitas atividades e projetos dos quais participei, contribui com a comissão que debateu, pensou e formulou a base da nova estrutura curricular da Poli, a EC3. Era uma proposta moderna, e alguns dos ideias que a moldaram eram: modernizar e sanar algumas deficiências/problemas dos cursos; e dar mais liberdade aos estudantes para que eles pudessem fazer mais atividades e ter uma formação mais abrangente. Por isso, um dos itens mais importantes da proposta era que, a partir do segundo semestre do curso, sempre houvesse espaço para uma disciplina optativa livre, que o estudante pudesse escolher qualquer disciplina em qualquer lugar da USP. Afinal de contas, vivemos num mundo em que é cada vez mais necessário ter conhecimentos e experiências diversas. Além disso, também havia a ideia de permitir que os estudantes tivesse mais tempo para atividade extracurriculares. Essa proposta saiu de um grupo que contou com discentes e docentes da Poli, depois de quase 2 anos de trabalho, nos quais foram estudados e avaliados modelos e regras de universidades do Brasil e do exterior.

Assim que a proposta base foi aprovada, cada departamento da Poli deveria organizar sua própria Estrutura Curricular (grade de disciplinas). Alguns departamentos iniciaram as discussões com seus estudantes, mas o PCS decidiu montar a estrutura curricular num “petit-comitê“, formado apenas por alguns poucos docentes e sem a participação de nenhum estudante – apesar de eu, Representante Discente do Departamento à época e membro da comissão que montou a proposta base, ter dito explicitamente várias vezes que desejava participar. A grade decidida pelo departamento praticamente acabava com a proposta de disciplinas optativas livres, e reforçou características que já eram muito criticadas pelos estudantes há tempos. Houve uma clara tendência a reforçar a presença de disciplinas ligadas aos grupos que estavam na comissão, enquanto disciplinas de outros grupos foram retiradas da grade (como Linguagens e Compiladores, por exemplo, que deixou de ser uma disciplina obrigatória). Ou seja, as diretrizes pensadas foram ignoradas no limite do possível, e hoje estão todos e todas, docentes e estudantes, sofrendo as consequências. E optamos pela mais traumática e radical das soluções, encerrar o curso.

Um pouco mais de histórico do PCS

Vale lembrar que o PCS experimentou o curso de Engenharia de Computação Cooperativo (Quadrimestral) em Cubatão no início dos anos 90, curso esse que foi encerrado antes do fim da primeira turma, que teve que se transferir para a Capital. Já mais recentemente o PCS iniciou mais um curso um tanto quanto “marqueteiro” de “Engenharia de Computação (com ênfase em Sistemas Corporativos)” na USP Leste, curso esse que também durou dois ou três anos, foi cancelado e fez com que os estudantes tivessem de se mudar para o Campus Butantã. Percebe-se ai uma certa tendência a tomar decisões não muito boas no curto prazo (pensando no tempo de um curso de graduação).

E o que eu acho disso tudo?

Eu, como egresso do curso, acho um grande erro encerra-lo. Acho que deveria se buscar sanar as deficiências, reduzir a grade, parar de tentar tutelar demais os estudantes – porque achar que os docentes é quem devem definir a grade completa e fazê-la a mais cheia possível é achar que os estudantes não sabem tomar decisões sobre seu futuro; e manter o curso.

Ficar apenas com o modelo Quadrimestral me parece um grande erro, primeiro porque vai afastar ainda mais o departamento do resto da Escola (com grades de periodicidade diferente os estudantes dos Quadrimestrais interagem muito pouco com os demais). Em segundo lugar porque este é um curso muito engessado em termos de disciplinas diversas e formará alunos com uma amplitude menor de conhecimento. Em terceiro, e mais importante, não são todos os estudantes que possuem condições de vida de poder estudar quatro meses intensamente e trabalhar quatro meses, alternadamente, durante sua graduação. Alguns precisam trabalhar para se sustentar, e o modelo proposto inviabiliza muito essa realidade, que a Poli como um todo deveria acolher, e não rechassar.

Enfim, estes são alguns dos meus pensamentos sobre o que está se passando. Espero que a Congregação da Escola Politécnica não deixe essa história seguir em frente da forma como está indo, e reforço a minha opinião de que a cultura de decisões de “petit-comitê” do PCS me parece mais danosa do que proveitosa.


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